Uma hora

Chove lá fora.
Uma hora para não fazer nada.

Como todas as terças-feiras, estou no café de uma padaria metida à ryca e cheia de gente do mesmo tipo. As pessoas conversam alto e as que não estão acompanhadas se concentram em suas telas touchscreen.
Gosto de observar e imaginar como seria a vida de cada pessoa, como são suas casas e o que elas fazem de sábado a noite.

O que será que aconteceu com aquele senhor que entrou de muletas e pulou a perna pra movê-la de lugar? Como é a vida da senhora com tingidos cabelos vermelhos e ar arrogante que combina blusa, sapatos e bolsa em amarelo gema, a mesma que acaba de reclamar que nesse lugar não tem ninguém pra atender, como se merecesse atendimento rápido e especial.

A moça a minha frente está com uma calça de academia e se empanturra com dois pequenos pães recheados de peito de peru e coisas verdes, enquanto suga rapidamente um copo de suco de laranja pelo canudo. Se levanta em seguida, ainda mastigando e vai embora.
Crianças no balcão fazem bagunça em frente aos bolos em suportes de vidro e deixa a garçonete preocupada, que traz meu suco de abacaxi e manjericão e se desculpa pela demora. Ela tem belos óculos vermelhos que combina lindamente com sua pele negra. Parece ser muito simpática.

O senhor das muletas pediu um lanche de alguma coisa que parece rúcula num pão integral, provavelmente daqueles com 875.374 grãos.

Meu suco acabou, mas provavelmente não teria acabado se os gelos do copo não fossem tão grandes.
Na mesa da frente acaba de sentar uma turma muito curiosa, de roupas largas e ar hippie, e parecem ter pressa. Provavelmente não são da cidade. É... definitivamente não são! Falam uma língua diferente. Não consigo identificar qual, mas tem um sotaque bonito. Seria francês? Não vou ter tempo para descobrir.

Já deu minha hora e preciso correr...

01 de abril de 2014, às 18:31